COLÉGIOS USAM A CRIATIVIDADE PARA OFERECER ENSINO PRESENCIAL


Com o retorno das aulas presenciais, a necessidade de cumprir os protocolos de combate à contaminação por covid-19 tem demandado soluções das instituições de ensino privadas que vão desde a instalação de divisórias entre as mesas no refeitório e esteiras de higienização das mochilas até transferir todas as mesas e cadeiras para o pátio. A entrada dos pais foi proibida em muitos colégios de Porto Alegre, para evitar aglomerações, e é diário o esforço de comportar quase o dobro de turmas — já que os grupos têm sido divididos em dois — no mesmo prédio de antes da pandemia.
O desafio é garantir um ambiente seguro para estudantes, professores e funcionários e, ao mesmo tempo, permitir que os alunos que não voltaram à sala de aula sigam aprendendo da melhor forma possível. Entre transformações ligadas a infraestrutura, logística, protocolos sanitários, recursos tecnológicos e demandas socioafetivas, não falta criatividade na rede privada de ensino de Porto Alegre, para dar conta de todos os percalços. Veja alguns exemplos.
No Colégio Israelita Brasileiro, todo o refeitório foi readequado para atender uma capacidade abaixo de 40% da anterior. Foram instaladas divisórias de acrílico entre as mesas e o horário no qual o almoço é servido foi ampliado. Nos corredores, em vez de bebedouros, há bombas de de água, para os estudantes encherem suas garrafinhas. Na entrada da escola, outra novidade: professores de Ciências e a equipe de manutenção da escola adaptaram uma esteira para bagagens, usada em aeroportos, e inventaram uma máquina onde é feita a secagem das mochilas dos alunos após a aplicação do álcool gel.
A instituição de ensino duplicou os espaços para salas de aula, com a construção de quatro cômodos novos e a readequação de outros 18, para que todas as turmas pudessem ser divididas em duas. Os pais deixam e buscam seus filhos em formato de drive-thru e, do portão para dentro, quem acompanha o estudante é um monitor.
Na área pedagógica, foram criados métodos para as três modalidades possíveis: a presencial integral, a híbrida e a remota. Parte das turmas foi separada em dois grupos — enquanto um tem aula presencial de manhã e remota à tarde, com o outro acontece o inverso. Na semana seguinte, eles trocam, a fim de proporcionar a mesma experiência de aprendizagem a cada duas semanas para todos.
— Nosso foco foi ter um acompanhamento socioafetivo permanente das crianças e dos adolescentes. Mesmo que com distanciamento, eles estão aqui todos os dias, interagindo e tendo um ensino equilibrado — relata o superintendente geral do Israelita, Janio Alves, ressaltando que 96% dos alunos aderiram à modalidade presencial.
Com a implantação dos protocolos sanitários, o Colégio Farroupilha passou por uma reorganização geral de turmas e alunos, a fim de atender o máximo possível de estudantes no formato presencial. As famílias estão proibidas de acessar a parte interna do prédio e, por isso, foi adotado um aplicativo que avisa a escola da chegada dos pais de crianças da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, para que o aluno seja liberado pela professora e encaminhado para o carro.
Quando chega na entrada da escola, o pai ou responsável identifica o estudante para os educadores que se encontram na entrada, com um tablet. Os monitores enviam, então, um aviso ao professor responsável por aquele aluno, que o libera para ir embora. A solução tecnológica foi encontrada na própria plataforma Google, que já era adotada pelo Farroupilha. — Isso tem facilitado muito a saída das crianças, porque evita a aglomeração de adultos, já que o nosso número de alunos é grande — observa a diretora pedagógica do colégio, Marícia Ferri.
Nas refeições, as crianças menores permanecem em sala de aula, onde as mesas já estão separadas de acordo com os protocolos de distanciamento social. Os mais velhos comem no refeitório, que opera com capacidade reduzida, ou no pátio. As atividades de contraturno foram suspensas e, por isso, a demanda por almoçar na escola é menor. Mesmo assim, há três horários de almoço, para evitar aglomerações no refeitório. Para beber água, cada aluno leva uma garrafinha, que pode ser enchida nos bebedouros.
Outra escola que apostou no uso de aplicativos para solucionar entraves gerados pela necessidade de evitar a contaminação por covid-19 é o Colégio Província de São Pedro. Duas ferramentas foram implementadas: o uso da função “Chegando” e da função “Declaração de Saúde” dentro do app Diário Escola, desenvolvido por uma empresa gaúcha.
O recurso “Chegando” é semelhante ao aplicativo usado no Farroupilha, mas, em vez de ser conectado com a cancela do estacionamento, utiliza diretamente os dados do GPS do celular dos pais do aluno. Os pais avisam pela ferramenta que estão a caminho da escola e, assim, é possível calcular quando o estudante precisa se dirigir para o portão de saída, evitando aglomerações.
Já a “Declaração de Saúde” é preenchida diariamente pelas famílias dos alunos. Ali, os responsáveis pela criança ou adolescente informam a temperatura corporal e a apresentação ou não de sintomas gripais no estudante ou em qualquer pessoa que more com ele.
— Como a empresa que desenvolveu o app é gaúcha, desenvolvemos junto com ela esta solução. A ideia é criar a cultura nas famílias de que não se pode ir ao colégio com nenhum sintoma, por mais usual que possa parecer — destaca Guilherme Peretti, diretor administrativo da instituição.
Mesmo com esses cuidados, a escola precisa fazer rodízio de frequência presencial entre os alunos da maioria das turmas, de acordo com a capacidade física de cada sala. As atividades extracurriculares do turno inverso foram interrompidas, bem como o almoço no colégio na faixa do 6º ano do Ensino Fundamental ao 2º ano do Ensino Médio.
Atendendo Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a escola Amigos do Verde solucionou muito do desafio de seguir os protocolos sanitários ao transferir os alunos para aquele que é sua marca registrada: o pátio. Além de escalonar os horários dos estudantes, foram criados recantos para cada turma no grande jardim da instituição, localizada em uma área de 3,6 mil metros quadrados, e levadas as mesas e cadeiras para lá.
O colégio, que já tinha como tradição oferecer parte das atividades ao ar livre, agora ampliou para todas — exceto em dias de chuva ou quando está muito nublado e frio, quando os estudantes permanecem nas salas de aula, com portas e janelas abertas. Além de mesas e cadeiras, os recantos têm cipós, pés de maracujá, playground, caixas de areia e outras atrações. No inverno, a expectativa é manter a prática.
— Nós usamos como inspiração as escolas na floresta, da Europa, que têm bosques e espaços verdes, e lá neva, tem muito frio. Eles costumam dizer que não existe tempo ruim, e sim roupa inadequada. Nossa orientação é mandar as crianças com roupa adequada para a estação — explica a diretora da instituição, Luna Behrends.
Em quase seis meses de atividades presenciais, o colégio registrou um único caso de covid-19 na comunidade escolar, que foi isolado e não houve contaminação comunitária, segundo Luna. A adaptação tem dado tão certo, que a direção trabalha com a ideia de manter as aulas no pátio, mesmo quando a pandemia acabar.
Preocupada com que os estudantes deixassem de lado os protocolos sanitários se estivessem no pátio, o Colégio Santa Inês fez o oposto do que a Amigos do Verde fez – em vez de aumentar o tempo na parte externa do prédio, determinou que os alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental aguardassem a chegada de seus pais dentro do auditório, supervisionadas por monitores.
— Se temos que cuidar de protocolos, é impossível deixar as crianças em um pátio, porque elas não vão tomar os cuidados necessários em um pátio, que convida a correr, brincar. Entendemos que, com o frio, eles também precisavam de um lugar protegido, aí colocamos no auditório, com as turmas escalonadas — relata a irmã Celassi Dalpiaz, diretora da escola.
Inicialmente, mesmo a Educação Física ocorria na sala de aula. Contudo, ao perceber perdas musculares nas crianças, devido à longa permanência em casa, as aulas retornaram para o pátio. A turma foi dividida em grupos, para que o professor consiga garantir a segurança e o distanciamento de todos. As refeições dos pequenos são todas feitas em sala de aula, enquanto os maiores comem no pátio, em círculos.
As outras aulas também ocorrem em turmas divididas e os espaços foram ampliados. A prioridade para o retorno presencial foi dada para as crianças da Educação Infantil, aquelas que estão em fase de alfabetização e as que estão no 6º ano, quando o acompanhamento presencial se torna mais importante.
O foco do Colégio Marista Rosário, desde o retorno das aulas presenciais, tem sido a saúde socioafetiva de estudantes, professores e funcionários. Entre as atividades divididas em quatro competências — autoconsciência e autoconhecimento; autocuidado; consciência social e habilidade de gerenciar relacionamentos —, uma das ações é o Minuto B.E.M., no qual semanalmente são oferecidas meditação e ioga para todos.
— A educação socioemocional é uma pauta urgente, que se evidencia muito em meio à pandemia, por conta da falta de convivência. Mais do que nunca, precisamos do cuidado e do olhar para o que vivemos — observa Caroline Becker, orientadora educacional do Ensino Médio na instituição.
Para evitar aglomerações, o Rosário adotou o sistema de bimodalidade de ensino, no qual as turmas foram divididas. Em cada semana, um grupo de estudantes tem atividades presenciais, enquanto o outro permanece com aulas remotas. Os níveis de ensino também tiveram seus horários de entrada e saída escalonados e os intervalos ocorrem sempre em sala de aula.


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