COLÉGIOS ACEITAM PAGAMENTO EM CRIPTOMOEDAS

Nas redes sociais, o meme "Saudades do tempo em que a minha única preocupação era..." se multiplica. De "qual lápis de cor escolher" a "estudar para passar de ano", as diferentes manifestações são usadas, em geral, para extravasar as dores da vida adulta dedicada a "pagar boletos". Para quem tem filhos em idade escolar e matriculados no ensino privado, os boletos representam a forma mais comum de quitar as mensalidades. A adesão do Brasil ao Pix começa a gerar mudanças no cenário. Na esteira deste processo, novos projetos surgem. A Educbank, por exemplo, passa a incluir as criptomoedas como meio de pagamento na rede de escolas parceiras da fintech.
A novidade, divulgada primeiramente pelo Valor Investe, está disponível a partir de agora para 60 escolas privadas de educação básica. Na hora de realizar o pagamento, o sistema powered by Educbank vai disponibilizar a opção de gerar um QR Code para pagamento em Bitcoin ou Ethereum.
A fintech, que garante às escolas o acesso a capital e o recebimento integral de 100% das mensalidades mesmo em caso de atraso dos responsáveis financeiros, afirma que a nova opção de pagamento vai ao encontro do interesse das "famílias que cada vez são mais heterogêneas".
“Acreditamos que desta forma vamos facilitar e simplificar a relação dos gestores escolares com as famílias, garantindo que cada responsável financeiro dos estudantes tenha autonomia de escolher a forma ideal de manter os pagamentos em dia”, argumenta Danilo Costa, fundador do Educbank e com passagens pela Vereda Educação e RBR Asset.
A "facilidade" da oferta de outros meios ainda não seduz a todos. Em 2021, apenas 5% dos pagamentos nas escolas parceiras da fintech foram via Pix. Nacionalmente, é mais difícil ter um retrato apurado sobre a preferência: de acordo com a Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP) - entidade presente em 15 estados e no Distrito Federal - cada instituição de ensino tem autonomia para seu controle de recebimentos e não há um levantamento sobre o tema.
Ainda assim, a pouca adesão ao Pix no universo dos 60 colégios atendidos pela Educbank chama a atenção se comparada à inserção no dia a dia. Desde a implantação em novembro de 2020, a alternativa de pagamento tem uma adesão de 81%, segundo uma pesquisa feita pela Zetta em parceria com o Datafolha. O Pix tem sido mais usado do que cartão de crédito (74%) e do que o boleto bancário (53%).
Apesar do cenário no meio escolar indicar um "apego" aos boletos, em detrimento de outras formas, Costa se mostra animado sobre a possibilidade das criptomoedas.
"Como ex-gestor de uma rede de escolas, sei que há muito por fazer para proporcionar inovações ao nosso setor e garantir que as escolas não fiquem de fora das vanguardas financeiras. Acreditamos que, para ampliar o acesso à educação de qualidade no Brasil, precisamos fornecer todas as ferramentas necessárias para que as escolas possam focar naquilo que é mais importante: educar e desenvolver pessoas", afirma.
Em outubro, o Banco Central comunicou ao mercado a previsão de que os brasileiros comprem R$ 23 bilhões em criptomoedas somente em 2021. O interesse pelos ativos como forma de investimento na B3, a Bolsa de Valores do Brasil, vem se consolidando. Dados relativos ao mês de outubro mostram que 479 mil investidores pessoa física escolheram a opção de custódia dos fundos de índices referenciados em criptomoedas (ou ETFs, na sigla em inglês). Em agosto, por exemplo, o total de investidores com posições nestas opções era de 159 mil.
Na análise de Luiza Brandão, diretora do Instituto de Referência em Internet e Sociedade (IRIS), o uso de criptos para quitar serviços educacionais ou outros contratos também passa pelo entendimento sobre o que está por trás do processo. "A segurança digital é uma engrenagem fundamental para novas gerações do consumo. O desenvolvimento dessas operações só é alcançado através da plena capacidade da criptografia. É ela que confere confidencialidade, integridade e autenticidade", cita.
O instituto pondera que modelos de negócios envolvendo criptografia podem ter sua popularização entre diferentes players - como o serviço de ensino privado -, impactada por discussões de regulação, como a proposta pelo Projeto de Lei 2.630. O PL institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet.
"Alguns comandos têm mais potencial de atrapalhar do que ajudar, porque na prática impõem um modelo de rastreabilidade que minam atributos essenciais da criptografia. Qualquer espécie de interferência pode afetar as operações intermediadas pelos serviços bancários e financeiros e diminuir a segurança e eficiência da rede".
O projeto, de autoria do Senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), vem sendo discutido desde 2020. Já foi apresentado em plenário virtual e aguarda a constituição de comissão especial.
Fonte: Valor Investe


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