Escolas não podem ficar de fora da educação tecnológica

Antes da pandemia, o índice de crianças alfabetizadas aos 7 anos era 50%. Em 2021, caiu para 31%. A partir de 2023, começa o trabalho para reversão desse quadro. Em 2024, o percentual chegou a 60% das crianças alfabetizadas no segundo ano, com 7 anos. Em 2027, a meta é 80%. “No fim da década, chegaremos a 100%”. Quem conta é o presidente da Fundação Lemann, Denis Mizne, que atua na área de educação desde 2014. Ele diz que, apesar dos números que nos afligem, há boas novidades na área. “Esse vai ser o primeiro ganho de aprendizagem. Os ganhos do Paulo Renato (ministro do governo Fernando Henrique) foram os de acesso. Depois, se seguiram os desafios de medir com o Ideb, de pagar mais, com o Fundeb, e de ampliar o acesso para o ensino infantil. Temos o Ceará, mas não temos uma história de sucesso de aprendizagem em nível nacional. Um país que garante que toda criança chegou na escola, dois anos depois, está alfabetizada isso já é um ganho enorme. Nosso próximo foco é o Ensino Fundamental 2”, diz Mizne.

 

A Fundação Lemann atua em conexão com o setor público, independentemente da tendência política do governador ou prefeito. Mizne conta que o principal foco da fundação é erradicar o analfabetismo escolar até o fim da década. “O que eu tenho sentido nos governadores é entusiasmo, com esse compromisso e nesse modelo de atuação com a sociedade civil”. O Brasil teve outros avanços importantes na educação ao longo das décadas, e ele enumera: “Ter escola, merenda, professor, livro, transporte escolar e um currículo de base nacional. Hoje, o país tem quase 95% das crianças de 4 anos numa escola pública perto de sua casa. E isso não é trivial. O país fez um trabalho importante, mas a qualidade ficou para trás”, observa Mizne.

 

O que outros países têm feito de certo? Denis Mizne tem visitado muitos países em busca destes pontos de sucesso, estudando casos tradicionais como Finlândia e Coreia, mas também Singapura. Recentemente, esteve na Índia. “A primeira coisa que nos demos conta é que todo país no mundo que deu um salto teve lideranças fanáticas para fazer da educação a mola propulsora. Em Singapura, o primeiro-ministro recebe diretores de escola para dizer que se o país chegou onde chegou foi pela educação. Portanto, cada um que atingiu esse posto de liderança ouve do líder do país: ‘eu conto com você’”, avalia o presidente da Fundação Lemann.

 

Pode-se argumentar olhando outros casos que o sistema educacional brasileiro é muito grande.

E é mesmo. Mizne repete os números de cabeça: o Brasil tem 140 mil escolas, dois milhões de professores, 50 milhões de alunos. Isso é muito? É. Mas cabe em Uttar Pradesh, estado da Índia.

“Estive lá, temos feito uma colaboração muito forte com a Índia desde então. Eles utilizam a tecnologia de forma muito inteligente. Assim como criamos o Pix, uma tecnologia digital aberta, pública, podemos criar isso para gestão de matrícula, formação de professores, acompanhamento dos diretores. A Índia tem usado essas ferramentas e também a inteligência artificial como apoio para professores na escala deles”.

 

Mizne diz que, no Brasil, o caso de sucesso de Sobral se espalha e hoje está em 18 estados. Em 2005, o município tinha todas as crianças alfabetizadas. Depois isso foi espalhado para todo o Ceará. “Hoje não é só Sobral. Tem Teresina, Branquinha em Alagoas, Vargem Grande no Maranhão. Já são 18 estados com políticas de alfabetização inspiradas no Ceará, e isso está mudando os dados do Brasil”. Mizne olha a educação no longo prazo e, por isso, alerta para a necessidade de inclusão da inteligência artificial como ferramenta essencial. “Estamos no meio de uma revolução tecnológica que é a IA. As últimas duas, o computador pessoal e a internet, a estratégia foi ficar fora. No Brasil, 30% das escolas hoje têm um computador para dez alunos. Outras têm menos. Na internet, demos um salto em conexão, mas as escolas não. O aluno não tem computador, o aluno não está conectado, mas a criança tem um celular, e está conectada. Mas a escola é o lugar de mediação. Não podemos perder a chance de fazer a escola ser um grande mediador da tecnologia, e não deixá-la fora da tecnologia”, conclui Denis Mizne.

 

(Fonte: O Globo)



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