Passado o período de maior dificuldade para o ensino privado na pandemia, escolas particulares de elite de São Paulo voltam a investir tanto em novos espaços quanto na abertura de vagas no próximo ano. Segundo especialistas, o mercado está aquecido, especialmente entre instituições voltadas para classes altas, que buscam escolas bilíngues ou com tradição na capital - e mensalidades entre R$ 7 mil e R$ 15 mil.

A Escola Móbile, há 50 anos em Moema, na zona sul de São Paulo, vai inaugurar em 2026 uma nova unidade na Vila Olímpia, também na zona sul, somente para o ensino médio. O prédio terá espaços pensados para a convivência dos adolescentes, novos laboratórios, um espaço de cinema, plenária para debates e um andar apenas para disciplinas eletivas criadas para o novo ensino médio - como Química da Beleza, Ciência na Cozinha e Física dos Instrumentos Musicais. O câmpus vai permitir que a escola abra uma nova turma, com dezenas de vagas, o que não acontecia há anos no ensino médio da Móbile. “Isso é muito importante, oxigena e areja a comunidade, com adolescentes que vêm de outras escolas, de outras realidades”, diz o diretor geral da Móbile, Wilton Ormundo. Para ele, o momento é de expansão e investimento na rede privada de São Paulo, em especial para “escolas com projetos consistentes”. As mensalidades no ensino médio da Móbile são de R$ 7,7 mil.

A Avenues, escola internacional na zona sul da capital, também começa este ano as obras para um novo câmpus de 6,5 mil m² ao lado de onde está localizada, no Morumbi. A ideia é ter um espaço na natureza para os alunos, com plantas nativas da Mata Atlântica, campo de futebol, estufa e riacho. O investimento é de US$ 3 milhões (R$ 16 milhões), com estimativa de estar totalmente concluído no início de 2027. “Além de dar mais bem estar para os alunos, o espaço casa com o nosso currículo, que pretende formar cidadãos que entendem a crise climática. Um dos problemas hoje é que as pessoas não têm contato com a natureza”, afirma a diretora da Avenues, Anne Baldisseri. A escola fundada em Nova York e que chegou a São Paulo em 2018 tem mensalidades que vão de R$ 8,3 mil a R$ 14,9 mil, dependendo da série. Atualmente são cerca de 1.200 alunos, com capacidade para chegar a 2 mil.

Depois de uma queda no número de estudantes durante a pandemia, a rede privada no Brasil voltou a crescer no último censo do Ministério da Educação (MEC), atingindo níveis mais altos que os registrados antes da covid. Segundo dados de 2024, os mais recentes, são 9,4 milhões de alunos em escolas particulares, o que inclui confessionais e filantrópicas. Em 2023, eram 9,3 milhões, mas em 2021 o total era de 8 milhões. De acordo com a vice-presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacio, o aumento observado chegou em níveis que ocorriam antes da pandemia. “Os colégios que atendem o público A+ têm apresentado crescimento inclusive de investimentos”, afirma.

O Colégio Visconde de Porto Seguro também anunciou este ano uma nova unidade no condomínio de luxo Fazenda Boa Vista, no interior do Estado. O câmpus, que será construído em parceria com a incorporadora JHFS, proprietária do empreendimento, deve começar a funcionar em 2027 e terá 12 mil metros quadrados. Segundo a escola, o projeto está “em fase de memorando de entendimentos, ainda sem detalhes arquitetônicos finalizados”. “Trata-se de uma área em expansão socioeconômica, com muitos investimentos em curso, além de novas fábricas, com demanda crescente por educação de excelência”, diz a nota da escola sobre o local. O novo colégio não será restrito ao condomínio e terá ensino plurilíngue - português, inglês e alemão, além de espanhol optativo.

Já o Colégio Santa Cruz, na zona oeste da capital, inaugurou este ano um novo câmpus, de 3 mil metros quadrados, somente para educação infantil. Além disso, a escola, conhecida pela grande concorrência, abriu novas vagas para crianças de 1 a 3 anos, que não eram atendidas. O Colégio Bandeirantes também investiu R$ 160 milhões nos últimos anos em novas instalações. Neste mês, foi entregue o novo centro esportivo, de 500 metros quadrados, com arquibancada e ampliação do playground para as crianças do fundamental 1, inaugurado há dois anos. Um novo prédio, de 11 andares, também foi construído e entregue em 2023.

A Escola Eleva, instituição bilíngue que abriu sua unidade na capital no ano passado, vai expandir e ter em 2026 turmas de ensino médio também. Dois andares novos do prédio na Vila Mariana, zona sul da capital, estão sendo reformados para serem usados tanto para convivência dos adolescentes - no estilo Starbucks - quanto para espaços de aprendizagem. Com mensalidades de R$ 10 mil, a escola vai investir R$ 500 mil em algumas bolsas para as novas vagas do ensino médio, que podem ser de até 100%. Segundo o diretor da Eleva São Paulo, James Diver, os benefícios serão dados “por mérito acadêmico”. No ensino médio da escola, que tem unidades no Rio, em Brasília e no Recife, os estudantes podem escolher entre o currículo internacional, o International Baccalaureate (IB), ou o nacional. A instituição originalmente brasileira também foi comprada em 2022 e faz parte agora de um grupo internacional, o Inspired Education.

Outra bilíngue que está expandindo é a Beacon School, na Vila Leopoldina, zona oeste. Os novos espaços inaugurados este ano aumentam em 50% a área da escola, com um novo bosque, dois campos de futebol e três quadras. Em 2027, ficará pronto ainda um espaço somente para alunos do ensino fundamental 2. Segundo especialistas, recursos vindo de fora do País - de grupos educacionais internacionais - têm ajudado na expansão das escolas de elite. Um dos poucos a movimentar o mercado sem estrangeiros foi o negócio entre o Colégio Oswald de Andrade e a Carandá Educação. A instituição da zona sul passou a integrar o grupo OEP, proprietária do Oswald, Elvira Brandão, Piaget e Crescer Sempre, tornando-se um dos maiores conglomerados do setor privado na capital.

(Fonte: O Estado de São Paulo)