MÃES SE JUNTAM PARA DENUNCIAR BULLYING EM ESCOLAS DO ESPÍRITO SANTO

Imagina você mandar seu filho para a escola e ele voltar machucado, chorando e relatando sofrer humilhações no colégio.
Essa é a realidade de algumas mães de Vila Velha, que se juntaram para denunciar casos de bullying contra os filhos em unidades da rede municipal de ensino.
As marcas da última violência sofrida na escola continuam no rosto de um menino de 7 anos. O hematoma na pele frágil de quem ainda está aprendendo o que é a vida deixou a mãe revoltada. "O menino começou a chegar todos os dias com a marca de agressão física e eu procurava ela [a escola] todos os dias para saber sobre aquelas marcas e o que estava acontecendo", diz uma das mães.
Segundo a mãe, além da violência física, o filho já sofreu outros tipos de humilhação em ambiente escolar.
"As crianças passavam a mão nas partes íntimas dele. O roxo que apareceu no rosto dele na quinta-feira, foi uma criança que botou o pé na frente e ele bateu na quina da mesa, se batesse o olho ali ia ficar cego, perder a visão", relatou.
A mãe contou que tentou buscar ajuda na própria escola, mas até o momento, nada foi resolvido. "Fizeram uma reunião para enfeitar o negócio, fizeram descaso na hora dizendo que não era aquilo, que criança tá descobrindo sexo, enfim, fizeram pouco caso desde a primeira vez que eu procurei e falaram pra mim que iriam tomar uma providência, que iam chamar os pais e não resolveram. Não deram suspensão as crianças, não fizeram reunião com os pais das crianças agressoras, não resolveram nada", desabafou.
Desesperada após as agressões, a mulher tirou o filho da unidade de ensino e procurou a Polícia Civil.
"Quando foi sexta-feira, peguei ele com o olho 'pocado', fui direto para a delegacia, fiz o boletim de ocorrência, o delegado me mandou pro DML para fazer corpo de delito".
O medo e a revolta também fazem parte do dia de outras mulheres com filhos matriculados em escolas de Vila Velha. Uma outra mãe relatou que o filho de 13 anos é vítima de bullying.
"Não só agressão verbal, mas física também durante o recreio e na sala de aula. No ano passado, tinha um menino que furava ele com o lápis, tinha um outro que assediava ele dentro da sala de aula", disse.
O garoto alegre que costumava tirar boas notas, atualmente chora e tem medo de frequentar a escola.
A neuropsicopedagoga Izabel Andrade afirma que crianças vítimas de intimidações precisam receber apoio imediato. "A criança que passa por transtornos emocionais com frequência tem o aprendizado comprometido. Nisso, é muito importante professores saberem disso, pais saberem disso. Se essa criança vir de uma situação de abuso e pressão escolar muito intensa, ela não vai aprender", explicou.
O acolhimento é fundamental para evitar que os traumas vividos na infância influenciem a vida adulta. "Refletem na vida adulta e se tornam tão cristalizados no nosso cérebro que pra mudar esse comportamento precisa de terapia. Precisa primeiro ele entender que não é um comportamento adequado e depois ele precisa buscar ajuda pra isso", contou a psicopedagoga.
Outra mãe comentou que a situação dela é exatamente essa. Quando ainda era adolescente, o filho dela precisou ser internado após ser humilhado constantemente por outros colegas.
"Ele começou a sentir coisas: dor no peito, dor de cabeça forte, dor no estômago, começou a sentir tudo. Eu tive que internar, ficou um mês internado. No final das contas, o médico falou: 'seu filho tem ansiedade, procure um psicólogo'", relatou a mãe.
Tudo o que ele viveu na fase de descoberta da vida ainda é sentido pelo rapaz que, atualmente, precisa de medicações e acompanhamento especializado. "Tem 23 anos e faz tratamento com medicação até hoje", contou a mãe.
Uma recente pesquisa realizada e divulgada pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que 43% das crianças no Brasil já sofreram algum tipo de humilhação na escola, seja pela aparência física, gênero ou orientação sexual.
Ainda assim, existe outro ambiente onde as humilhações e as agressões acontecem ainda piores, muitas vezes, de forma anônima. Crianças e adolescentes estão cada vez mais conectados na internet, por isso, os pais precisam observar atentamente o comportamento e o que é consumido pelos filhos em ambiente virtual.
"Não é que a internet ou o celular seja ruim, criança tem que ter o uso adequado, com tempo, com supervisão. Isso tem sido realmente um fator de muita preocupação", comentou Izabel Andrade.
A Prefeitura de Vila Velha informou, por meio de nota, que em um dos casos, a escola convocou a família para uma reunião, inclusive acionou a participação do Conselho Tutelar, porém nenhum responsável compareceu.
Segundo a prefeitura, o caso já vem sendo acompanhado pela unidade de ensino juntamente com a Secretaria Municipal de Educação, inclusive já houve aplicação de punição dentro do que prevê o regimento escolar.
Fonte: Folha Vitória


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