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ESTÍMULO À CIÊNCIA TEM APOIO DE UNIVERSIDADES E MAIORIA FEMININA
Programas de iniciação científica voltados a estudantes de ensino médio estimulam o interesse dos jovens pela ciência e ajudam na escolha vocacional. Por meio de parcerias com as escolas, alunos frequentam laboratórios e entram em contato com pesquisadores de instituições como USP (Universidade de São Paulo), Unicamp (Universidade de Campinas), Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e universidades federais. Em alguns casos, os estudantes recebem bolsa de R$ 300 mensais do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). O benefício é reservado para a rede pública.
Ex-aluna do colégio Pedro 2º, no Rio de Janeiro, Juliana Figueiredo, 18, participou por três anos do Provoc (Programa de Vocação Científica) no Instituto de Tecnologia em Fármacos da Fiocruz."Foi uma experiência incrível porque no colégio a gente não tinha os mesmos recursos que o laboratório da Fiocruz". Juliana ajudou a pesquisar novos fármacos mais eficazes e menos prejudiciais à saúde para combater variantes da malária. Durante a participação em um congresso para apresentar resultados do trabalho, a estudante decidiu que queria cursar medicina.
Luiza Figueiredo, 16, já segue os mesmos passos da irmã mais velha. Aluna do segundo ano do ensino médio, ela participa de projeto que testa a toxicidade de substâncias na instituição. "A minha irmã me apresentou ao programa e eu fiquei muito empolgada com a oportunidade de estar no laboratório aprendendo de forma prática."
O programa da Fiocruz foi o primeiro do tipo a ser criado no país, há quase 40 anos. O projeto serviu de modelo para iniciativas semelhantes, incluindo a do CNPq. Os alunos são acompanhados por um pesquisador da instituição e por um professor na escola onde estudam. Ao final de cada ano, eles apresentam os resultados do projeto em eventos acadêmicos. "Quando esse aluno ingressa na universidade, ele chega com um diferencial porque já sabe apresentar trabalho, montar pôster e fazer relatório de pesquisa", afirma Cristiane Braga, coordenadora do programa.
No Rio de Janeiro, onde está a sede da Fiocruz, a instituição recebe cerca de 80 a 100 estudantes para pesquisas em todas as áreas da saúde, que incluem as ciências biológicas, sociais e humanas. Podem participar estudantes dos colégios de aplicação da Uerj e da UFRJ, Pedro 2º (todas as unidades) e instituições privadas, como o Centro Educacional Anísio Teixeira e o Colégio São Vicente de Paulo. A proposta também atende alunos do entorno da Fiocruz, na Maré e em Manguinhos, na zona norte da cidade, por meio de parcerias com o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré, Redes Maré e a Rede de Empreendimentos Sociais.
O CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), também no Rio, oferece possibilidade aos alunos de fazerem pesquisa em áreas como cosmologia, gravitação, astrofísica, robótica e inteligência artificial. Nicolas Mendonça, 18, diz que ter participado da iniciação científica no CBPF durante o ensino médio mudou sua percepção sobre a área acadêmica. "Na minha cabeça, fazer física era só para se tornar professor. Quando eu vi que tinha um monte de pesquisadores estudando coisas legais, comecei a querer fazer também", afirma. Hoje, ele cursa o segundo ano da graduação de física na Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). "Uma porcentagem expressiva de ex-alunos do CBPF segue para física, engenharia ou química", afirma Sebastião Dias, responsável pelo programa da instituição. "Mas o maior ganho é o aluno entender qual a importância da ciência na vida dele."
É o caso de Luma Fernandes, 16, aluna do Colégio de Aplicação da USP, que faz iniciação científica na Faculdade de Arquitetura da universidade. Seu projeto de pesquisa trata da acústica da sala de música da própria escola. "Não tinha material nenhum para reverberação da sala. Agora, estamos fazendo os testes finais para colocar uma placa que vai diminuir o eco e melhorar o som". Na USP, o programa é voltado para alunos do segundo ciclo do ensino fundamental e do ensino médio, mas apenas os últimos estão aptos a receber bolsa.
De acordo com o CNPq, 6.069 alunos de 195 instituições de todo país receberam o benefício no último edital. As meninas são a maioria entre os estudantes e concentram 3.722 (61%) das bolsas voltadas para o ensino médio, contra 2.347 (39%) dos meninos. A maior parte dos bolsistas fazem pesquisa na área da educação (26%), seguida pelas áreas de agronomia (13%) e ciência da computação (11%). No site do CNPq, é possível consultar todas instituições que oferecem esse tipo de programa. As parcerias e quantidade de bolsas variam a cada ano. Estudantes interessados em participar devem buscar a escola para se informar sobre o processo seletivo.
(Fonte: Folha de São Paulo)
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