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IA pode facilitar a aprendizagem escolar?
Em meio aos debates envolvendo o uso da tecnologia como um facilitador no processo educativo, colégios têm investido na capacitação de seus profissionais, assim como em estratégias dentro da sala de aula para potencializar o uso de ferramentas de inteligência artificial entre os estudantes. O objetivo é compreender a IA como um instrumento de transformação, enriquecendo o pensamento crítico, um aspecto questionado quando esse assunto entra em discussão.
Para Claudia Tricate, diretora do Colégio Magno/Mágico de Oz, que atende do berçário ao ensino médio, a inteligência artificial pode oferecer soluções rápidas, mas, se os alunos não forem instigados a questionar, comparar e refletir, o processo educativo perde força. ?Por isso, o que temos feito é prepará-los para usar a tecnologia como ponto de partida para o pensamento crítico, e não como um atalho que elimina a reflexão?, afirma ela.
Claudia cita que a implementação de IA no colégio, que tem cerca de 2 mil alunos, é realizada de maneira gradual, cuidadosa e com ampla comunicação. ?O pensamento computacional, o letramento digital e também científico dos alunos sempre fizeram parte das nossas atividades. Por isso, investimos continuamente na formação da nossa equipe.?
No colégio, localizado na zona sul de São Paulo, a inteligência artificial é vista sob diferentes perspectivas. ?Ela aparece como tema de estudo, quando os alunos trabalham para compreender como a IA ?pensa?; como ferramenta pedagógica, quando prompts criados pelos alunos, a partir da leitura de clássicos da literatura, viram imagens; e também está presente no debate sobre questões éticas e de segurança cibernética?, afirma ela.
Com cerca de 3 mil alunos nos cursos regulares da educação infantil ao ensino médio, no Colégio Santa Cruz, além de ações de formação de professores e palestras com especialistas, um grupo de trabalho, que envolve todos os setores da escola, tem realizado encontros para refletir sobre as melhores práticas para utilizar a inteligência artificial. Segundo Ana Carolina Vieira, coordenadora do núcleo de educação digital do colégio, localizado no Alto de Pinheiros, zona oeste da capital, o uso de IA só é indicado quando mediado pelo professor, em uma proposta de uso intencional, o que garante o protagonismo dos alunos. ?Criando propostas cujos resultados fornecidos pela IA sejam o objeto de estudo da turma. O papel do professor como mediador é fundamental, não só no planejamento da aula, mas garantindo condições para a reflexão do grupo?, acrescenta ela.
Para otimizar o uso de ferramentas de inteligência artificial dentro do colégio, desde 2023, o Dante Alighieri está investindo em letramento em IA para professores, funcionários administrativos e alunos a partir do 3º ano do ensino fundamental. ?Reestruturamos o currículo de educação digital, incorporando a inteligência artificial como eixo indispensável para compreender um mundo em constante transformação e preparar os estudantes para os desafios do mundo do trabalho?, disse Verônica Cannatá, coordenadora de tecnologia educacional da instituição de ensino que atende cerca de 4,2 mil alunos, no Jardim Paulistano, e tem desde a educação infantil até o ensino médio.
Fabia Antunes, diretora pedagógica da Escola Lourenço Castanho, que atende mais de 2 mil alunos do ensino infantil ao médio, cita que o uso de recursos tecnológicos, nas unidades localizadas na Vila Nova Conceição e Alto da Boa Vista, se baseia em dois princípios. O primeiro deles está relacionado aos três Cs: consumo, compartilhamento e criação de conteúdo, com ênfase na criação e compartilhamento, evitando o consumo passivo. O segundo princípio é baseado no modelo SAMR de Ruben Puentedura, que descreve quatro níveis de integração tecnológica: substituição, ampliação, modificação e redefinição, visando transformar a experiência educacional por meio da tecnologia.
Fabia também destaca a importância de priorizar a segurança de dados dos estudantes em ambientes digitais educacionais. ?Os dados que eles navegam dentro desses ambientes digitais, tanto o Microsoft como a Apple, ficam seguros na escola. Esse é um cuidado importante que a escola precisa ter, para esse dado não alimentar nenhum tipo de aplicativo que possa gerar alguma informação desse público?, afirma ela.
Na avaliação de Juliana Caetano, coordenadora de tecnologia da educação da Escola Vera Cruz e Instituto Vera Cruz, todo trabalho sério realizado com tecnologia educacional precisa ter no seu centro a ideia de que a tecnologia precisa ser utilizada para potencializar a inteligência humana. ?E o pensamento crítico é uma das coisas que compõem a nossa inteligência humana e uma das coisas inclusive que está sendo mais cobrada no mundo atual?, acredita ela. Na Escola Vera Cruz, que atende da educação infantil ao ensino médio, na zona oeste da capital, toda iniciativa que envolve tecnologia precisa estar ancorada no projeto pedagógico e ter um propósito claro de aprendizagem. Segundo Juliana, isso vale para qualquer ferramenta, inclusive os celulares, quando utilizados para fins pedagógicos.
Para Graziella Matarazzo, coordenadora de Tecnologia Educacional do Colégio Albert Sabin, a proibição do uso de celulares em sala de aula de escolas de São Paulo, por exemplo, reacende uma discussão importante em meio aos debates sobre tecnologia. ?O problema não é o celular em si, mas o uso sem propósito produtivo. Quando agregamos valor à tecnologia, ela é capaz de transformar positivamente o ambiente de aprendizagem. Os celulares ou outras telas podem ser recursos de produção audiovisual, de registro de experimentos ou de pesquisa colaborativa, desde que inseridos em projetos pedagógicos bem estruturados?, afirma ela.
No Albert Sabin, que atende 1.450 mil alunos da educação infantil ao ensino médio no Parque dos Príncipes, zona oeste da capital, o currículo de tecnologia consiste em três pilares: tecnologias emergentes, cultura maker e design & tecnologia ? sempre conectados a competências de cidadania digital, lógica e resolução de problemas. ?Esse currículo foi desenhado para desenvolver não apenas o pensamento computacional, mas também a criatividade e o repertório cultural e tecnológico, que são fundamentais para formular boas perguntas e compreender como resolver problemas de forma inovadora?, completa Graziella.
(Fonte: O Estado de São Paulo)
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